Atenção, este é um blog pessoal, eu só divulgo/resenho material QUE EU QUERO QUANDO EU QUERO. Você pode até me enviar seu trabalho ou me pedir pra upar alguma banda especifica se quiser... quem sabe eu acabo fazendo? Mas eu não me comprometo a postar/divulgar/disponibilizar NADA.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Denúncia de machismo na cena Straight Edge de São Paulo

"O objetivo desta carta aberta é denunciar a discriminação contra a mulher que se perpetua no âmbito dito libertário, expondo em repúdio o machismo velado recorrente em um meio no qual teoricamente se acredita em igualdade, porém na prática propaga o oposto"


Enquanto o racismo é mais amplamente combatido dentro da cena libertária, o machismo e a homo/transfobia se fazem muito presente, estão por aí em diversas letras de bandas esbanjando ignorância e preconceitos baseados no senso comum. Dá vergonha alheia quando bandas me mandam material com letras desse nipe, falando sobre "heterofobia" ou "feminazi"... pior ainda se considerarem libertárias... mas, pra mim, pior que isso é o discurso demagogo.
Adianta querer cobrar postura de uma banda com influência de Raimundos? Agora tu tem casos como o do Gustavo do Nieu Dieu Nieu Maitre (que tinha aqui no blog mas retirei faz tempo) com letras libertárias e até uma bem grande sobre feminismo mas com uma atitude totalmente oposta, que tu pode conferir na carta aberta contra ele aqui.
E agora rolou o mesmo, de bandas que nos palcos falavam sobre igualdade, até sobre direito das mulheres, mas fora deles às objetificavam, tiravam sarro de seus ideais e ainda praticavam o chamado "revenge porn" (que só no último mês foi causa de dois suicídios no Brasil).


Dentro os denunciados estão membros das bandas Still x Strong, La Revancha, Duo, Metade Melhor, Dikina, Inspire, Disxsease, Direct Shot, Future Waves, Inner Self, Stand Hard, Calças de Veludo, In Your Face, Werewolf, Sentenced, The Only Way, Days of Sunday, e talvez outras, coletivos Verdurada e SP em Fúria, zines Escória e Crescocreator Webzine, crews Disciplina e Baiano Loko. Os auto-intitulados "Reis".


Ainda tô vendo como vão se pronunciar não só essas e os coletivos, mas também as outras bandas da cena. Tenho diversos amigos dentro da cena sxe mas eu mesmo nunca tive muita ligação, não sei o quão sabido era pelo resto das bandas o que tava rolando e o quão conivente eram com a situação, aí fica ao seu critério julgar se as outras das bandas da cena, como as que saíram na recente coletânea "Não Somos os Primeiros, Não Seremos os Últimos" eram ou não cúmplices do que tava rolando, mas na denúncia no CMI é triste ver uns caras falando, ainda com certa poma, que tem lá seus 40 anos e sempre viram isso na cena... porra, então a atitude de vocês também se resumiam às músicas? Parabéns por ter lá seus 40 anos, estar na cena desde o começo, sempre ter visto isso, e nunca ter feito NADA.
Muitos tão querendo defender a "cena", falando que a atitude é isolada desses caras, mas estes que vi tentam amenizar o ocorrido falando "sempre aconteceu" ao invés de tomar uma postura contundente contra isso... enfim, acredito que o negócio ficou mais público em um evento na USP dia 22, e a carta aberta saiu 2 dias atrás, e por enquanto continua um silêncio total das bandas e coletivos, principalmente adjacentes, quanto o assunto. Será que vão querer abafar a conduta dos "brothers" e continuar na mesma porque eles tem bandas e zines e coletivos e movimentam a "cena"?

Enfim, segue a denúncia com fotos:

3 comentários:

  1. "Com o hardcore, o punk, o diy e, principalmente com o straight edge, aprendemos que a renúncia e a resistência são nossas mais eficientes armas.

    A renúncia a uma sociedade estratificada em classes desiguais, a renúncia a sermos coniventes com nossos privilégios enquanto homens em um mundo que somente objetifica as mulheres, a renúncia em relação a toda exploração animal (humana e não-humana), criadora de miséria e escravidão nos quatro cantos do planeta.

    Com o straight edge aprendemos o quão importante é saber resistir, e resistir de maneira eficiente diante de toda tradição classista, machista, sexista, homofóbica, especista e racista.

    No entanto, devemos ter a ciência de que a luta se constrói dia após dia.

    A liberdade não é um espaço físico que conquistamos e, uma vez que lá estamos, nada é capaz de nos tirar. Construímos, dia após dia, renúncia após renúncia, resistência após resistência, aquilo que nos faz ser o que somos, a liberdade pela qual prezamos.

    Quando nos deparamos, portanto, com uma carta aberta, como essa que foi divulgada (http://prod.midiaindependente.org/en/blue/2013/12/526930.shtml), denunciando o machismo dentro do straight edge, dentro do hardcore, dentro do punk, ficamos realmente tristes.

    Tristes primeiramente, e especialmente, por conta das mulheres envolvidas, que mais uma vez se tornam vítimas diante de uma sociedade que não espera nada delas além de joelhos dobrados e consentimento.

    Depois nos entristecemos por ainda não sermos capazes de nos aproximar do ideal daquilo que tanto acreditamos, ou pelo menos, dizemos acreditar.

    Quando uma mulher é vítima de machismo, TODO HOMEM É CULPADO.

    Podemos, enquanto seres que carregam um pênis entre as pernas, tentar nos redimir, dizendo que não participamos daquele grupo, que nem sequer straight edge somos, que condenamos essas atitudes, que queremos caçar esses que estão envolvidos e boicotar qualquer projeto que já tenha surgido ou que venha a surgir deles. Nem assim, estaremos nos redimindo.
    Enquanto homens, por mais que renunciemos nossa condição privilegiada, enquanto vivermos em uma sociedade machista, estaremos, direta ou indiretamente, sendo beneficiados.

    Nós, do Standing Point, nos sentimos culpados, por toda mulher que é vítima de abuso, por toda mulher que é violada, por toda mulher que é objetificada.

    Sim, nós também somos culpados.

    Cabe à nós, minimamente tentar rever nossas condutas, sempre e a cada dia, pois não estamos isentos dos mesmos erros que essas pessoas envolvidas nessa situação específica cometeram. Como homens, é nosso dever, nos posicionar, é nosso dever repensar toda e qualquer atitude, é nosso dever assumir nossos privilégios e tentar, sempre, nos livrarmos deles.

    Devemos entender que, por mais agressiva que podemos pensar que tenha sido essa carta aberta, sua violência ainda não chega aos pés da violência e abuso sofrido pelas vítimas.

    Oferecemos espaço à toda mulher que sentir vitimada por uma conduta machista e entendemos que nessa luta, não somos protagonistas, mas aliados.

    Devemos entender, de uma vez por todas, que não é atrás de desculpas que essas vítimas estão, mas sim de um tratamento igualitário.

    O machismo não se desconstrói através de arrependimento posterior, de um pedido de desculpas, mas sim com uma revisão em nossas atitudes. Da mesma maneira que estamos sempre sujeitos ao erro, também nos sujeitamos a possibilidade de acertar.

    Precisamos destruir o presente para construir um futuro mais igualitário.

    Acreditar no futuro é saber resistir no presente.

    Acreditar no futuro é saber renunciar no presente.

    Nós, homens somos todos culpados.

    A questão é: até quando?" Standing Point

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  2. "PRATIQUE O QUE VOCÊ PREGA!
    No que nós entendemos por Hardcore o machismo, racismo e o especismo (dentre outras formas de preconceito) NUNCA TERÃO VEZ.
    XXX" xAMORx

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  3. ""Você não pode quebrar o nosso espírito, nem silenciar a nossa voz!" (publiquei em 2012, mas vale a pena ler de novo)

    Este artigo publicado a alguns anos atrás no fanzine norte-americano Slug and Lettuce, foi escrito por Adrienne, vocalista da banda Spitboy na época. Ela fala sobre alguém que confiava ao ponto de dividir a mesma cama, e que não a respeitou quando ela disse não. É também sobre um monte de outros garotos punks que ela sabe ter estuprado mulheres. É uma tentativa de encontrar o poder de lidar com tudo isso, mas também a frustração de ver como a violência contra as mulheres e o sexismo são tratados na cena punk.

    Embora tenha um contexto e um período específico na cena punk dos EUA (que muito provável esteja vivendo hoje a mesma inércia política como estamos vendo por aqui - salvo algumas pequenas exceção), continua tão atual que vale a pena reproduzi-lo agora, em espaços onde o punk vem conservando velhos valores de um sistema que acredita combater.

    Afinal, quando falamos de violência machista praticada por homens considerados e respeitados na cena punk, “homens que escrevem para fanzines que você lê, ou o cara que leva o selo de discos”, ou que organiza shows, toca numa banda considerada, e o que vemos acontecer é um divisor de águas. Não é atoa que todas essas situações de violência machista que vem sendo denunciadas agora (mas que já acontecem a muitos e muitos anos), ainda se vê algumxs poucxs apoiarem a denúncia e se posicionar politicamente sobre o que aconteceu. E mesmo em tempos de internet, redes sociais o que vemos é um silêncio funebre ou os questionamentos (muitas vezes violento) sob a veracidade dessas denúncias.

    Você não pode quebrar o nosso espírito, nem silenciar a nossa voz!

    http://femmeliberte13.tumblr.com/post/34240655680/voce-nao-pode-quebrar-o-meu-espirito" Abuso Sonoro

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